

Síria mobiliza soldados após confrontos entre beduínos e drusos que deixaram 89 mortos
As autoridades sírias mobilizaram soldados no sul do país após os confrontos de domingo (13) entre tribos beduínas e combatentes drusos em Sweida, que deixaram pelo menos 89 mortos, segundo uma ONG.
Israel, que já interveio na Síria nos últimos meses sob o pretexto de proteger os drusos, anunciou nesta segunda-feira (14) que atacou vários tanques das forças governamentais sírias na região, das quais alguns membros combatem ao lado dos beduínos, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Os confrontos continuaram nesta segunda-feira nos arredores da cidade predominantemente drusa de Sweida, que está sob controle de combatentes drusos, de acordo com o OSDH e o site de notícias local Suwayda 24.
Os confrontos entre comunidades evidenciam os enormes desafios enfrentados pelo governo interino liderado por Ahmad al Sharaa, que assumiu o poder após derrubar o regime de Bashar al-Assad em dezembro, depois de quase 14 anos de guerra civil.
O OSDH informou que a violência começou no domingo, um dia após o "sequestro de um vendedor de verduras druso por beduínos armados que instalaram barricadas na estrada que liga Sweida a Damasco".
"O incidente se agravou e os dois lados executaram outros sequestros", acrescentou a ONG.
O Suwayda 24 informou que os homens sequestrados foram libertados na noite de domingo.
O Ministério da Defesa, em coordenação com o Ministério do Interior, anunciou em um comunicado o envio de unidades militares para as áreas afetadas, a abertura de passagens seguras para os civis e expressou a vontade de "acabar de maneira rápida e determinada com os confrontos".
- "Ausência de instituições estatais" -
O ministro do Interior, Anas Khatab, declarou no domingo na rede social X que "a ausência de instituições estatais, militares e de segurança é uma das principais causas das tensões persistentes em Sweida".
O OSDH atualizou o balanço para 89 mortos e dezenas de feridos durante os combates na cidade de Sweida e em outras localidades da província de mesmo nome.
A ONG informou que 50 drusos morreram, incluindo 46 combatentes, duas mulheres e duas crianças. Dezoito beduínos, 14 membros das forças de segurança e sete indivíduos não identificados também morreram. O número anterior de mortos era de cerca de 50.
O Ministério da Defesa anunciou a morte de mais de 30 pessoas e 100 feridos.
Os líderes religiosos drusos pediram calma, e um dos mais influentes, o xeique Hikmat al-Hejri, exigiu "proteção internacional imediata" para sua comunidade, afirmando que se recusou a permitir que as forças governamentais entrassem em áreas controladas pelos drusos.
Em um comunicado à imprensa, o Ministério da Defesa sírio anunciou o envio de "unidades militares para as áreas afetadas", a "abertura de passagens seguras para civis" e sua determinação em "encerrar rapidamente os combates".
- Rodovia entre Damasco e Sweida fechada -
"Estamos com muito medo, as bombas estão caindo sobre nós. As ruas estão paralisadas e as lojas fechadas", disse Abu Taym, de 51 anos, à AFP.
O OSDH destacou que a região é cenário de tensões desde os confrontos entre combatentes drusos e as forças de segurança em áreas drusas próximas a Damasco e em Sweida em abril, que deixaram mais de 100 mortos.
As tribos beduínas sunitas da província se alinharam com as forças de segurança durante os incidentes.
Para evitar um agravamento, os líderes locais e religiosos chegaram a um acordo para melhorar a integração dos combatentes drusos nas instituições estatais.
Os beduínos e os drusos mantêm uma rivalidade de longa data e, ocasionalmente, são registrados focos de violência entre os dois grupos.
A convivência entre diferentes minorias é um dos desafios do novo governo sírio, em particular após a onda de violência contra a comunidade alauita que deixou mais de 1.700 mortos em março.
As preocupações aumentaram no final de abril, após os ataques mortais contra a comunidade drusa.
Depois dos incidentes, Israel, que ocupa desde 1967 uma parte das Colinas de Golã pertencente à Síria, efetuou vários bombardeios, um deles perto do palácio presidencial de Damasco, e afirmou que atuou para proteger os drusos.
Os drusos concentram-se principalmente na Síria, Líbano e Israel, onde vivem 152.000 membros desta comunidade derivada do xiismo, mas considerada como uma corrente esotérica.
O número inclui 24.000 drusos que vivem na área das Colinas de Golã ocupada por Israel, dos quais menos de 5% possuem cidadania israelense.
L.Leroy--JdCdC