ONGs veem 'propaganda' em penas de até mil anos contra integrantes de gangues em El Salvador
Organizações humanitárias criticaram nesta segunda-feira (22) as sentenças de até mil anos de prisão contra quase 250 integrantes de gangues em El Salvador, ao considerá-las uma operação de "propaganda" do presidente Nayib Bukele para demonstrar severidade.
A pena máxima de prisão em El Salvador é de 60 anos, de modo que o montante descomunal das condenações anunciadas no domingo, na prática, é simbólico, segundo ativistas ouvidos pela AFP.
"Ver condenações de milhares de anos é mais propaganda do que qualquer outra coisa, pois no país não existe prisão perpétua, e isso serve ao governo para dizer ao mundo que aqui a lei é dura", disse do exílio Ingrid Escobar, diretora da ONG Socorro Jurídico Humanitário.
A Procuradoria Geral, alinhada ao governo, informou no domingo que 248 membros da gangue Mara Salvatrucha (MS-13) foram condenados a penas de vários séculos de prisão após serem considerados culpados por 43 homicídios e 42 desaparecimentos de pessoas.
Um dos integrantes dessa gangue, declarada "terrorista" pelos Estados Unidos, recebeu pena de 1.335 anos de prisão. Outros dez foram condenados, respectivamente, a entre 463 e 958 anos.
"Essas condenações milenares são um show do governo em meio à dor de muitos inocentes que continuam presos. Chegamos a um tempo em que a Justiça é obediente e não justa", afirmou, por sua vez, Samuel Ramírez, dirigente do Movimento de Vítimas do Regime (Movir).
Desde março de 2022, o governo de Bukele iniciou uma "guerra" contra as gangues MS-13 e Barrio 18, amparado em um regime de exceção que permite detenções sem ordem judicial, o que, segundo grupos de direitos humanos, resultou em abusos.
A.Bernard--JdCdC